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4 de Maio de 2024

Mais de 1 milhão de toneladas de lixo recolhidas este ano em Fortaleza

São materiais que poderiam voltar para a cadeia produtiva e acabam alocados em terrenos baldios, praças, canteiros centrais e calçadas. Faltam apropriação e cuidado com o espaço público; sobra má educação

Publicado por Carolina Salles
há 10 anos

Por Isabel Costa

Mais de 1 milho de toneladas de lixo recolhidas este ano em Fortaleza

FOTOS CAMILA DE ALMEIDA/ESPECIAL PARA O POVO

Nós convivemos com o lixo. Nos canteiros centrais, nas praças, nos terrenos baldios e nas calçadas. Não há quem possa negar. Na última estatística oficial, que tem número de 2012, eram contabilizados 1.500 pontos irregulares de resíduos sólidos em Fortaleza. Não é conhecido se hoje, quase dois anos depois, o algarismo aumentou ou diminuiu. Mas sabemos que o lixo e seus problemas estão batendo à porta com sacolas plásticas, entulhos e podas de árvore. Apenas no primeiro semestre deste ano, Fortaleza já recolheu 1.008.958,28 toneladas de resíduos sólidos.

Cada saco de mercantil lacrado com nó e jogado na rua indevidamente é a semente para um processo insalubre, desrespeitoso e desgastante. Os pontos irregulares geram um impacto visual negativo, conforme explica Gemmelle Santos – professor do mestrado em Gestão Ambiental do Instituto Federal do Ceará (IFCE) -, além de contaminar solo, água, ar e de servir como alimentos para vetores (ratos, baratas, moscas). “Alcançando, de uma forma ou de outra, a sociedade”, diz Gemmelle.

E esse impacto visual só aumenta com o avançar dos anos. Basta olhar com atenção para as ruas. Nós não conseguimos resolver - ou, pelo menos, minimizar – o problema da sujeira. Uma das razões para o crescimento dos pontos de lixo, de acordo com especialistas ouvidos pelo O POVO, é a lógica de consumo sem limites. Segundo Larissa de Brito Feitosa, professora e pesquisadora de Psicologia Social, em décadas passadas não havia o volume e o tipo de lixo gerado hoje. E, como a redução do consumo não está no horizonte de expectativas, é necessário pensar em soluções viáveis e salubres para o processo - explica a pesquisadora.

Mesmo com os malefícios tão visíveis, os pequenos lixões da Cidade continuam sendo alimentados. Segundo Larissa Feitosa, existe um processo de “privatização do indivíduo”, no qual os prazeres particulares se tornam mais importantes que o contato e o bem-estar social. O outro – que pode ser o catador de papelão, o vizinho, o porteiro do prédio ou o gari – não é levado em consideração. Mas esse “outro”, explica Larissa, também pode ser o espaço público. “O lixo vai para o espaço compartilhado. E, sem existir uma apropriação desse espaço público, ele acaba ficando invisível. Quando nós não nos apropriamos de algo, ele não faz parte de nós. E, consequentemente, não nos preocupamos em cuidar”.

Redução

Parte dos materiais descartados como lixo pode voltar para a cadeia produtiva. Ao invés disso, as latas de refrigerante, o papel e o plástico das embalagens são rejeitados e acabam nos aterros sanitários. Para Gabriela Otero, coordenadora técnica da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cada rejeito deveria ser transformado em produto novo ou gerar energia. “Poderíamos reaproveitar os recicláveis de produtos já consumidos. Reciclagem é mercado certo, desde que tenha uma indústria estimulada. O lixo descartado nos domicílios brasileiros tem esse potencial”, acredita.

Ela explica que, com o descarte acentuado, os aterros sanitários acabam tendo a vida útil minimizada. “Se os resíduos sólidos fossem reinseridos na cadeia produtiva, os aterros poderiam durar mais e nós iriamos extrair menos dos recursos naturais. Para a realidade brasileira, pelos próximos 50 anos, ainda precisaremos dos aterros. Mas eles têm que ser pensados como a ponta final de um processo de recuperação e reinserção dos materiais – e não como a única alternativa para descartar o lixo”, afirma Gabriela.

Saiba mais

Quando os resíduos sólidos são levados pela coleta domiciliar, não acontece o fim do processo. O volume recolhido não some instantaneamente. É apenas o início de um processo dispendioso, que começa com a caçamba e termina no Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia (Asmoc). Em 2013, a Emlurb recolheu a quantidade exorbitante de 2.043.927,43 toneladas de resíduos – provenientes de lixo domiciliar, podação, entulho, limpeza de canais e lagoas.

A Emlurb recebe denúncias de descarte irregular. Ao constatarem infração, os fiscais fazem notificação e a pessoa tem prazo de 48 horas para comparecer a empresa. Caso não compareça no prazo ou a infração seja comprovada, há aplicação de multa (baseada no Código de Obras e Posturas do Município). Os valores variam de R$ 64,56 a R$645,60. Para quem gera acima de 100 litros ou 50 quilos por dia, a penalidade se baseia na Lei 8.408/99 (Lei dos Grandes Geradores). As multas variam de R$ 636,72 a R$3.183,62 e são diárias. O órgão conta com 15 fiscais.

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