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19 de Abril de 2024

Qual é o papel do Estado na proteção ao meio ambiente?

A ação do Estado é decisiva para deter o colapso ambiental, diz especialista

Publicado por Carolina Salles
há 10 anos

Por Samantha Maia

Essencial para a organização da economia depois da crise financeira internacional de 2008, o Estado terá um papel decisivo na superação de outro grande desafio da sociedade globalizada, a luta pelo desenvolvimento sustentável e contra o aquecimento global. A análise, apresentada pelo doutor em direito internacional Eduardo Felipe P. Matias em seu mais recente livro, A Humanidade contra as Cordas – A luta da sociedade global pela sustentabilidade, é resultado de uma avaliação detalhada do caminho percorrido nas últimas décadas por políticos, empresas e organizações civis em busca da construção de um novo modelo de crescimento e bem-estar social. Ainda não há uma resposta à altura para o problema e um eventual fracasso em dar conta desse desafio levará a civilização industrial contemporânea ao colapso, prevê o autor.

A partir da recapitulação do movimento mundial de conscientização sobre a necessidade de novas práticas de preservação do meio ambiente, com destaque para o marco histórico da realização, em 1972, da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, a obra considera a ação reguladora e indutora do Estado imprescindível para “reverter incentivos perversos que provocaram tanto a crise financeira quanto a socioambiental, com o objetivo de evitar novos colapsos”. A dupla debacle está diretamente relacionada às consequências de um modelo de consumo desenfreado em um mercado desregulado e sem incentivos à sustentabilidade.

O debate sobre as formas de os Estados estimularem de maneira efetiva uma transformação das empresas rumo a um sistema de produção sustentável e baseado em fontes alternativas aos combustíveis fósseis torna-se especialmente importante em um momento de questionamento do sistema de negociações da ONU sobre o clima. O Protocolo de Kyoto, em vigor desde 2005, é o único instrumento legal internacional em vigor para obrigar à limitação das emissões de gases de efeito estufa, os maiores causadores do aquecimento global. Em 2012, os países signatários aumentaram as suas emissões, enquanto o objetivo era a redução de 5% em relação aos níveis de 1990. Mesmo assim, o acordo foi renovado, desta vez por um conjunto menor de participantes responsáveis por menos de 15% das emissões globais de carbono, ante 51% na sua versão original. O sistema organizado para o comércio de carbono entre países com metas obrigatórias de redução e aqueles não comprometidos com esses objetivos não funcionou e não é mais considerado eficaz.

Envolver um número menor de participantes nos pactos para reduzir a produção de poluentes, focar em metas mais tangíveis e considerar previamente o que os países estão dispostos a realizar são algumas das possibilidades para superar o modelo falho. O tamanho do desafio não deve ser subestimado, alerta o autor. As fontes de emissão de gases de efeito estufa são difusas, profundamente entremeadas no sistema de produção e a sua alteração a curto prazo tem custo elevado.

O sucesso na substituição das fontes mais poluentes depende tanto da evolução das regras de governança das empresas para incorporar a questão da sustentabilidade entre os seus objetivos quanto do incentivo público ao desenvolvimento de novas tecnologias. Uma ação importante dos governos, apesar de bastante controversa, é a eliminação total dos subsídios aos combustíveis fósseis, calculados em cerca de 1 trilhão de dólares por ano no mundo todo. Encarecer esses produtos seria um caminho para desestimular o consumo.

O autor entende não existir incompatibilidade entre a sustentabilidade e a globalização, possível veículo para a disseminação de novas práticas, mas a adoção de um padrão sustentável de desenvolvimento tem impactos no crescimento da economia mundial. Por maior que seja o êxito em demonstrar às empresas os bons resultados de investir em práticas consistentes do ponto de vista socioambiental, com redução dos riscos do negócio, ganho de reputação e de eficiência, a luta contra o aquecimento global depende, na essência, de se repensar o modelo de progresso baseado no aumento incessante do crescimento e do consumo. Essa reflexão levou a iniciativas como a criação, pelo governo francês, de uma comissão para estudar um mecanismo mais eficiente de medição da performance econômica e do progresso socioambiental. As questões sem resposta sobre os meios para viabilizar um mundo mais sustentável se avolumam e os problemas se agravam a cada dia, mas há alternativas, conclui Matias.

Reportagem publicada originalmente na edição 816 de CartaCapital, com o título "A mão visível e verde"

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4 Comentários

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Devemos praticar o consumo consciente. continuar lendo

Tenho falado constantemente!.
1º Lugar (responsábilidade)
O papel do Estado é primordial na proteção do meio ambiente.
Porem ele é o maior responsável pela destruição:
- Não tem feito nada para impedir.
- Tem realizado obras mal planejadas.
- Não tem projetos e realizações bem planejadas e eficazes.
- Não tem departamento/pessoas que funcionam de verdade.
- Não toma ações para impedir, punir ou até mesmo para corrigir as irregularidades.
- Não da qualquer atenção as denuncias ou sugestões de pessoas que buscam melhores condições de vida ao planeta.
- Gente incopetente e de má indole no poder.

Enfim o Estado não faz nada!.

2º Lugar (responsábilidade)
A populção que não esta nem ai para o meio ambiente, e ainda destroi.
Esta mais preocupado com carnaval e futebol do que o planeta.
E só vai passar a melhorar, a partir do momento que existir penas fortes e eficazes e ações de correção imediata.
Só assim Brasileiros entendem, na força e no bolso, caso contrario, educar e mostrar a importancia, é perder tempo e isso o planeta não pode esperar e aguentar mais.

Governo eficiente <=>Povo eficiente.

Visão sem ação não passa de enganação.
Projeto sem execução não passa de enrolação. continuar lendo

interessante que pessoas de mentes curtas, que não conseguem sequer ter uma visão do que é um país, querem e falam de Estado e de Meio Ambiente. Mas que falem, assim compreendemos o mundo que vivemos, pelos relatos. continuar lendo