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18 de Abril de 2024

Cheia traz dilema entre sair ou ficar em áreas próximas aos igarapés

Alguns moradores temem mais a violência que a subida das águas

Publicado por Carolina Salles
há 10 anos

Dentro de mais alguns dias o Rio Negro estar invadindo as casas de pelo menos 12 bairros Mesmo enfrentando o problema todos os anos

Dentro de mais alguns dias, o Rio Negro estará invadindo as casas de pelo menos 12 bairros. Mesmo enfrentando o problema todos os anos. Foto: Jair Araújo

Manaus - As águas do Rio Negro começam a avançar sobre os becos dos bairros da Glória, Presidente Vargas e São Raimundo trazendo muito lixo e mudando a rotina de quem vive próximo aos igarapés. Este ano, pelo menos 12 áreas serão atingidas pela cheia que, de acordo com previsão do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), deverá atingir a cota máxima de 29,49 metros (m). Em 2012, o Rio Negro registrou a marca recorde de 29,78 m, 1 centímetro a mais que sua segunda maior cheia, a de 2009.

Há 14 anos, Rômulo da Silva, 28, fica com medo das inundações. Morador do bairro São Jorge, ele conta que passou oito meses pagando no cartão de crédito a madeira da casa construída à beira do igarapé e, hoje, quando o nível das águas sobe muito, pega madeira velha para subir o assoalho da casa. “Quando alaga mesmo, vamos numa canoa procurar madeira velha dentro igarapé para fazer a maromba para a água não entrar dentro de casa e estragar tudo”, disse.

A dona de casa Líbia Batista perde, todos os anos, móveis e eletrodomésticos no período de cheia do Rio Negro. Ela espera um apartamento no Residencial Viver Melhor há 6 anos. Atualmente, mora com a mãe em casa de madeira suspensa por palafitas no Beco São José, no bairro Glória, zona oeste de Manaus.

A dona de casa conta que quer sair do lugar antes das águas chegarem este ano, mas ainda não tem para onde ir. “A gente ainda vai ver para onde vamos. Estamos correndo atrás dessa casa do ‘Viver Melhor’ e nada de conseguir, mas, eu tenho fé em Deus que um dia vamos conseguir”, disse, esperançosa. Mais do que o medo da enchente, a dona de casa reclama da criminalidade. “É bom morar aqui por uma parte, mas por outra não. É muito tráfico, muito tiro”.

Apesar de todas as dificuldades, morar perto do Centro ainda é prioridade para muitos continuarem nas áreas vulneráveis às alagações, mesmo correndo risco de perder tudo que têm. Nascida e criada no Beco São José, a estudante Brenda Soares, 22, diz que morou a vida toda na Glória e que gosta do local.

Para não perder tudo, todos os anos ela e a família se mudam do beco para uma parte mais distante do igarapé até a chuva cessar. “A gente aluga um quarto lá pra cima e leva tudo que dá. O restante que não dá para levar acaba estragando”, contou.

Fora a criminalidade do local, a estudante relata que não gostaria de sair do Beco São José. De acordo com Brenda, no dia anterior a reportagem (15 de abril) ocorreu um grande tiroteio no beco. “Já passamos tantas dificuldades, por que não íamos passar mais uma? Agora está enchendo bastante, antes não enchia tanto assim, não alagavam as casas. Tenho mais medo da criminalidade do que da enchente”, relata.

Não tão distante, ainda na Bacia do São Raimundo, a ajudante de cozinha Marivete Morais, 34, já encaixota vários objetos à espera da enchente. Moradora do Beco Vitória, no bairro Glória desde 2002, ela relata que não consegue mensurar todas as perdas que já teve nas inundações, as maiores foram em 2009 e 2012. “Já perdi de tudo, não tenho mais nada na minha sala, perdi sofá, estante e guarda-roupa”, disse.

Segundo Marivete, apesar de todos os prejuízos ainda não saiu da beira do igarapé por falta de condições financeiras. “Não vejo a hora de sair daqui”, enfatiza.

Ancorados no assistencialismo, a maioria dos moradores das áreas de risco veem os programas habitacionais como a única saída. Para Marizete, essa é a oportunidade de uma vida melhor. “A melhor coisa que apareceu foi esse Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus). Se não fosse isso, nunca teríamos a chance de sair daqui”, admite.

Indenizações

O valor das indenizações pago para a desocupação destas áreas faz muitas pessoas não quererem deixar o local. A ajudante de cozinha reclama dos valores oferecidos pelo governo.

Para ela, o valor baixo vai obrigá-la a morar distante do Centro. “Os outros que já saíram foram indenizados e eu não queria indenização. Avaliaram que minha casa custava R$ 13 mil, o que eu vou fazer com esse dinheiro? Depois, queriam me dar R$ 35 mil, mas, mesmo assim não dava, só compraria casa longe do Centro e pra longe eu não quero ir”, disse.

De acordo com a Unidade de Gerenciamento do Prosamim, o programa reassentou de 2006 a abril de 2014, 13.464 famílias. Sendo 3.031 no igarapés da Bacia do São Raimundo.

Um levantamento do CPRM, de 2012, mapeou 120 mil pessoas morando nas áreas de risco em Manaus, das quais 30 mil em casas prestes a desabar. São, segundo o estudo, 79 áreas consideradas com o risco muito alto, 202 de alto risco e 293 com médio risco, além de 61 áreas de alagações. “Identificamos áreas de risco de baixo, médio, alto e muito alto. Os que moram em locais de intensidade muita alta, são em torno de 25 mil a 30 mil pessoas”, informou o supervisor de gestão territorial do CPRM, geólogo José Luiz Marmos.

Fonte: Gisele Rodrigues - http://www.d24am.com/amazonia/meio-ambiente/cheia-traz-dilema-entre-sair-ou-ficar-em-areas-proximas-...

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